A primeira é que contém um conjunto signifcativo de estudos sobre Gil Vicente, a sua época, a religião e a filosofia que são mencionadas nas obras: http://www.gilvicente.eu/obras/autos.html Mas além disso o sítio é interessante por mais duas razões diferentes: a de ser criado por um pintor ou doutorado em pintura que se queixa de não ser aceite entre os especialistas literários por não ser "de Letras", e eis que voltamos a uma problemática que a mim me é cara, a da necessidade da interdisciplinaridade e a da estreiteza dos (auto-arvorados) especialistas.
Mas a outra razão é aquela que me levou a intitular esta entrada: a posição de Noémio Ramos, o autor do sítio em questão e de vários livros e artigos sobre Gil Vicente, é de que o ourives Gil Vicente e o dramaturgo Gil Vicente são a mesma pessoa. De facto, porque não? Desde quando é que ser bom numa área impede ou determina não ser bom noutra? De facto, eu remeto os leitores para a argumentação e estudo histórico do autor, mas concordo que seria muito mais interessante e provavelmente muito mais adequado às realidades da altura que um artesão/artista do ouro também se desse às Letras, provavelmente como "hobby".
O que esta questão demonstra, em última análise, é que a deteção e descoberta de mistérios não é exclusivamente para a polícia ou detetives privados: pelo contrário, faz parte da mais elementar investigação, está na base até do estudo dos clássicos. Pistas literárias, intertextualidade, conhecimento da época, metodologia de investigação... tudo isto pode ser empregue e ativado ao lermos Gil Vicente, e Noémio Ramos.