Gil Vicente era ourives

No meu trabalho (de sapa) de criar o PANTERA, http://www.linguateca.pt/PANTERA/, e correspondente procura de edições de livros portugueses na Internete, deparei-me com um sítio muito interessante -- por várias razões.

A primeira é que contém um conjunto signifcativo de estudos sobre Gil Vicente, a sua época, a religião e a filosofia que são mencionadas nas obras: http://www.gilvicente.eu/obras/autos.html Mas além disso o sítio é interessante por mais duas razões diferentes: a de ser criado por um pintor ou doutorado em pintura que se queixa de não ser aceite entre os especialistas literários por não ser "de Letras", e eis que voltamos a uma problemática que a mim me é cara, a da necessidade da interdisciplinaridade e a da estreiteza dos (auto-arvorados) especialistas.

Mas a outra razão é aquela que me levou a intitular esta entrada: a posição de Noémio Ramos, o autor do sítio em questão e de vários livros e artigos sobre Gil Vicente, é de que o ourives Gil Vicente e o dramaturgo Gil Vicente são a mesma pessoa. De facto, porque não? Desde quando é que ser bom numa área impede ou determina não ser bom noutra? De facto, eu remeto os leitores para a argumentação e estudo histórico do autor, mas concordo que seria muito mais interessante e provavelmente muito mais adequado às realidades da altura que um artesão/artista do ouro também se desse às Letras, provavelmente como "hobby".

O que esta questão demonstra, em última análise, é que a deteção e descoberta de mistérios não é exclusivamente para a polícia ou detetives privados: pelo contrário, faz parte da mais elementar investigação, está na base até do estudo dos clássicos. Pistas literárias, intertextualidade, conhecimento da época, metodologia de investigação... tudo isto pode ser empregue e ativado ao lermos Gil Vicente, e Noémio Ramos.

 

Emneord: identidade, literatura Av Diana Sousa Marques Santos
Publisert 7. aug. 2014 18:08 - Sist endret 18. jan. 2019 15:53