Senão vejamos: se fossem totalmente independentes, todas as culturas se poderiam exprimir numa mesma língua -- e não haveria explicação para o número louco de linguas existentes no mundo, que, segundo Steiner, é um dos mistérios que a humanidade ainda não conseguiu desvendar.
E todas as línguas permitiriam exprimir todas as culturas. O que se sabe ser completamente falso, visto que muitos conceitos numa cultura não têm equivalente em outras e portanto não têm palavras ou expressões ou características gramaticais pertinentes.
Sabemos além disso que a própria forma de raciocinar ou de apreender conhecimento muda de cultura/língua para cultura/língua, como Boaventura de Sousa Santos exprimiu com o seu conceito de "epistemicídio".
Por isso, é trivial estabelecer que existe _alguma_ relação entre cultura e língua.
O que não é trivial é decidir a importância da língua para a cultura. (E da cultura para a língua.) Uma das fontes do problema é que a língua vai evoluindo, e a cultura vai mudando (e mais uma vez não é garantido, embora provável, que o fazem em conjugação.)
Abrindo totalmente o jogo, a minha crença é de que a língua é importantíssima para definir a forma como o homem está no mundo e para criar cultura, e por isso a estou a estudar (a língua).
Outros acham que é apenas uma ferramenta para comunicação DENTRO de uma cultura, ou mesmo um empecilho de que temos de nos libertar para compreender realmente a cultura, definida a maior parte das vezes por atuações mais intuitivas (por exemplo o espaço físico entre falantes). Na minha opinião, o facto de que aprendemos muito falando e ouvindo (mas não tudo) é uma razão de peso a favor da importância da língua.
Um dos meus objetivos neste blogue será apresentar casos de cultura intimamente associada à língua, o que implica contrastá-la(s) com outra(s). Outro dos objetivos será tentar identificar traços de uma cultura lusófona que unam os vários povos e as várias subculturas que usam o português. Pois é, estes objetivos parecem muito ambiciosos -- por isso direi: de uma perspetiva muito pessoal baseada na minha vivência e experiência, e não, de forma alguma, ex catedra!