Muito! Muito, mesmo. E por isso devemos prestar-lhe homenagem e admirá-la, porque não era certamente uma mulher qualquer. Foi uma mulher que mudou o mundo, que lutou pelos seus ideais, e que deu e dá coragem e vontade de prosseguir na luta por um mundo melhor.
Ela podia ter sido simplesmente uma vítima -- das diferenças de classe, das diferenças raciais, da desigualdade no mundo e no Brasil, visto que foi no Brasil que nasceu e por isso honra o Brasil com a sua vida e com o seu exemplo. Mas não foi uma vítima (a não ser de assassínio), foi uma lutadora. Foi uma pessoa que empunhou a bandeira do Sol, e lutou, ajudou outros, impediu muita injustiça e falou pelas vozes geralmente menos ouvidas: das mulheres pobres, das mulheres negras, até das mulheres com uma sexualidade diferente, mas também pelas vozes dos oprimidos, dos pobres, das vítimas.
Por isso encheram-se as ruas para fazer o seu luto, mas sobretudo encheram-se as redes sociais com a voz dela, com os discursos dela, com a mensagem dela e com os tributos de tantos que com ela tiveram esperança, que com ela aprenderam, que por ela se deixaram inspirar. Também se encheram com a palavra de ordem "Marielle, presente!", para que a morte dela, em vez de apenas suscitar horror, tristeza e pessimismo, sirva como um rastilho para uma luta pelos ideais dela, e pelo conhecimento, a nível mundial, da sua personalidade e mensagem.
O mundo -- e a Noruega é um bom exemplo disso -- precisa de exemplos a seguir, precisa de heroínas e heróis, não só de pessoas a quem odiar, como a ministra da Justiça ou o "seu" terrorista.
A vida e o exemplo de Marielle Franco, que foi pelo seu assassínio catapultada para as notícias de todo o mundo, deve ser contada, mostrada, e apontada como um exemplo. Para quem nunca ouviu falar dela, leia simplesmente a biografia dela na Wikipédia. Não é o crime em si que é o importante, é o silenciamento de uma voz que tem de continuar a ser amplificada e escutada. Pelos brasileiros, claro, mas também ou até sobretudo pelas pessoas do mundo inteiro.
Ouçam o discurso dela no passado Dia da Mulher (e que se encontra acessível na internete), vejam os testemunhos e os discursos que ela fez, leiam os textos que ela escreveu. O Brasil está de luto, mas a Marielle Franco é o exemplo e a prova de que o Brasil tem a capacidade de dar exemplos ao mundo, e de que muitas Marielles vão surgir, das mais improváveis favelas, e tornar o mundo melhor.
Marielle, presente!
