- Por um lado, porque se aprende línguas de muitas maneiras -- enquanto se aprende física, ou geografia, geralmente numa sala de aulas, e ninguém "sai" físico ou geógrafo com o leite materno.
- Por outro, porque sabe-se desde logo que, por mais que se ensine, e por mais que se tente, nunca se ensina um adulto a falar como um falante nativo! (Ou, pelo menos, e para não dizer que é coisa impossível, tal situação acontece MUITO raramente!)
Assim, enquanto um professor de matemática ou de filosofia pode esperar que, um dia, tenha um aluno ou aluna que vá mais além: um Einstein, ou um Turing, quando o que se ensina é falar ou exprimir-se numa língua que não é a dele, diria mais uma vez que não há nenhum professor de línguas que tenha essas expetativas.
Por isso, parece que à partida o ensino de uma língua a (adultos) estrangeiros é uma atividade com pouco brilho e com poucas capacidades de realizar uma pessoa, ou de conseguir algo que seja unanimemente considerado como um sucesso... Nesta triste atualidade em que apenas "sucessos" contam.
Contudo, a atividade de tentar explicar a um conjunto de adultos inteligentes e com outra língua desenvolvida nas suas cabeças pode ser fascinante, porque obriga a comparar maneiras diferentes de categorizar e olhar o mundo. Vendo maneiras diferentes de olhar para o que em princípio é uma situação evidente, ensina-nos muito sobre a nossa própria "camisa de forças" pensante, e ensina-nos também muito sobre o que os "outros" pensam, devido à "camisa de forças" deles.
Talvez camisa de forças não seja a melhor metáfora, mas a ideia é que somos "obrigados" a pensar numa dada cultura. Isso faz parte da nossa formação como indivíduos e cidadãos. Pensar nas coisas que nos moldam -- a língua é uma das mais importantes -- é uma atividade filosófica. Mas como pensar?
Voltando ao tema, pensar sobre a língua é muito mais fecundo quando a estamos a tentar esclarecer a outros seres inteligentes (ou mesmo a computadores) do que sem norte. E por isso ensinar a língua pode ser uma maneira de descobrir muito sobre nós e a nossa cultura, e sobre a forma como a inteligência funciona. ("Inteligência" não como uma qualidade de poucos, mas como uma propriedade essencialmente humana, que permite o uso da linguagem.)
O que o ensino faz, ou pode fazer, é focar o professor em alguns problemas, e ajudá-lo a encontrar as soluções através da observação dos seus alunos e das regras que vai propondo. E por isso, o ensino das línguas é propiciador de atividade filosófica, em diálogo.