Regresso, rescaldo e retorno do primeiro congresso de humanidades digitais em Portugal

Várias emoções complementares me assaltaram durante o congresso, boas e más, que vou tentar resumir aqui. Algumas, de pura alegria por ver outras pessoas dizer coisas que apreciei ou que achei que eram um progresso considerável.

Outras, de puro desespero, por ver ainda e sempre as pessoas começarem do nada sem qualquer conhecimento do que já existe ou existiu em Portugal e -- temo adivinhar -- sem vontade de o saberem ou reconhecerem.
E outras ainda, de cansaço por ver a história repetir-se, com variações mínimas e conjunturais, e sem ninguém aprender com a história.
Mas, dada a minha experiência provecta, também já começo a ver isto como a comédia humana, e os atores passarem a ser, não pessoas individuais, mas tipos:
- a aceitação acrítica da ideia do progresso
- a venda de um produto pelos americanos tentando não ser condescendentes (e falhando pelo próprio patenteamento da sua profunda ignorância)
- os projetos que "foram feitos pelos alunos", "não tiveram tempo", "tinham de fazer coisas", como desculpa para não mencionar as limitações que afinal conheciam... fica sempre a dúvida!
- os "chicos espertos" ou os "orientadores que apresentam um trabalho feito sob a sua orientação", que apresentam coisas que mais não são que o empacotamento ou o "mashup" (caldeirada em linguagem informática) de sistemas complexos e desenvolvidos por outros, como se fosse trabalho deles, ou que apresentam... algo que afinal nunca foi feito por falta de financiamento, com a maior desfaçatez...
- os jovens interessados e desejosos de contribuir, que imaginam que um dia farão a diferença
- os velhos, inteligentes e refletidos, com uma cultura geral extraordinária, em geral na assistência, mas que não conseguem (muitas vezes) comunicar com uma audiência de jovens acríticos ou pertencentes a outro mundo
- os que gostam de fazer críticas contundentes
- os que gostam de dizer que gostaram
- os "burocratas"
- os entusiastas
- os que se indignam
- os que falam com um perfil doutoral
- e, sempre, sempre, as eternas lutas identitárias do que uns são e/ou não são .

(Por acaso, neste congresso, tenho de realçar que isto aconteceu muito menos do que nos de PLN (processamento de linuagem natural) e de LC (linguística computacional)! Talvez por haver muito mais atores em jogo -- historiadores, literatos, arquitetos etc além dos informáticos --, ou por as pessoas envolvidas terem dado o salto de se tornarem interdisciplinares.)

Outros padrões: os que vêm a um congresso para ter reuniões ou para ver a cidade, ou para apresentar o seu artigo e desaparecerem, e os que vêm para discutir ou para vender o seu ponto de vista.

Os que falam maravilhosamente; os que se pavoneiam à frente dos slides; os que lêem e se atrapalham; e os que treinaram, treinaram...

E pronto. Mais não digo. Do ponto de vista prático, e além de ter feito vários contatos pessoais e conhecido mais pares (ou ímpares) -- e ter feito o meu quinhão de "amigos", e de "inimigos", que sei que os faço sempre -- vou tentar usar alguns programas ou sistemas que achei interessantes.

E estou muito grata pelo convite para participar. Que significa que pelo menos alguns estão interessados em ouvir experiências passadas.

Emneord: língua, política Av Diana Sousa Marques Santos
Publisert 5. okt. 2015 10:57 - Sist endret 17. mars 2016 10:06